Érika Miranda parou. E parou por cima. Aos 31 anos – sendo 19 deles de dedicação ao judô, com 12 na Seleção Brasileira – a atleta da Sogipa anunciou nesta semana a aposentadoria dos tatames. Ainda que pegasse boa parte de seus colegas e fãs de surpresa, foi uma decisão pensada. Um pedido do corpo, conforme ela mesma explica, lembrando que jamais trocou de categoria ao longo de todo o seu tempo de judoca.
Nesta quarta-feira, Érika recebeu homenagem da Sogipa, clube que defendeu no último ano e meio. Chorou emocionada ao ver vídeos enviados por colegas de clube e de Seleção Brasileira. “As medalhas ficam para ti, mas esse reconhecimento, do exemplo, é o teu maior legado”, destacou o técnico Antônio Carlos Pereira, o Kiko, na homenagem.
A brasiliense aposenta-se sendo, ao lado de Mayra Aguiar, a brasileira com o maior número de medalhas em Campeonatos Mundiais, cinco. Além de dezenas de títulos nacionais e internacionais. Representante do Brasil nos últimos dois Jogos Olímpicos, ela assistirá ao próximo como torcedora e amiga. Se tudo der certo, também como estudante de Educação Física, conforme ela revela na entrevista abaixo:
Por que parar e por que agora?
Isso é uma decisão que eu tomei já a algum tempo. Claro que uma decisão assim você tem que pensar bem e eu pensei e repensei. E são 14 anos já no judô, mais de 14 anos, eu comecei com 12 anos, então são quase 20 anos. E são 14 anos já na mesma categoria. Então a Érika dos 31 tá na mesma categoria dos 14, 15 anos e meu corpo sentiu isso. Eu falo assim e todo mundo ficou preocupado “poxa e a sua saúde?” e a saúde de é o único limite do corpo né, de cansar, de lesões, de treino. Eu resolvi parar realmente nesse momento pra cuidar de mim, cuidar da minha saúde e começar uma nova caminhada.
O que fica de bonito da tua carreira?
Ah assim, a gente que treina judô fica tão preso no tatame, no treino, buscando o próximo resultado que nesses últimos dias eu vi tanta coisa que nem eu lembrava. Tanta coisa, tantas entrevistas, tantos momentos, passou tantos filmes. Eu acho que eu nunca chorei tanto (risos). O que fica não são as medalhas, o que fica é meu exemplo como atleta, em disciplina, o sempre estar buscando o melhor, em humildade. Isso são fatores que não valem só pro esporte, pra Érika competitiva, mas pra Érika pessoa e para todos que puderam compartilhar minha carreira comigo.
Tem algum arrependimento ou foi como tinha que ser?
Muitas vezes, em alguns momentos, eu me arrependi das minhas decisões e sempre mais para frente eu entendia qual era o intuito daquela decisão. Foram coisas que só me fizeram crescer e evoluir.
Certamente tu és uma das principais atletas do judô brasileiro em todos os tempos. Qual imagem que tu gostaria que ficasse para a posteridade?
Que eu seja uma inspiração. Uma inspiração de disciplina, de garra, de determinação, que todas as pessoas que me acompanharam, que me assistiram, que todos que gostaram dessa Érika e se espelharam nessa Érika, que eles podem ser como ela também todos os dias, em tudo que a gente faz. Eu até brinco assim porque eu vivi esses 20 anos quase 100% no judô, então eu tenho essa convicção, por tudo que eu aprendi, que se eu colocar 50% da minha vida nessa nova caminhada, eu sei que eu vou ter muito sucesso também. Então, tudo que eu aprendi eu só estou levando para a minha vida.
Tem planos futuros ou por ora é só férias?
Primeiro eu acho que sim, eu tenho que cuidar da minha saúde. Não é nada grave, não vou morrer, mas tenho que cuidar agora da minha saúde. Eu quero retomar os meus estudos e ocupar minha mente. Eu sei que nesses três primeiros meses acho que eu tenho que viver esse luto porque é um choque de rotina, pro corpo. Então quero focar nessa minha recuperação e nos meus estudos e depois começar a colocar em prática as outras questões que eu tenho vontade de realizar muitas coisas ainda. Tenho muitas coisas para fazer ainda.