Eduarda Vaz Rosa relembra “virada” que a motivou para chegar aos Jogos Olímpicos da Juventude

Foi de uma derrota que lhe roubou um sonho que Eduarda Vaz Rosa encontrou força e motivação para reerguer-se na carreira. E seguindo essa, que é uma das filosofias do judô, a atleta gaúcha do GN União terá daqui a 30 dias a um dos momentos mais especiais da sua (ainda curta) carreira: representar o Brasil nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Buenos Aires.
Duda, como é chamada pelos amigos, resolveu dar essa guinada ao ver escapar a chance de subir no pódio do Mundial sub-18, ano passado, quando a chance de ser a primeira medalhista em Mundial de seu clube escapou, em Santiago, no Chile. Tal situação lhe incomodou, e isso com o compromisso seguinte já marcado, os Jogos Sul-Americanos da Juventude, no mês seguinte, no mesmo local. “Pensei: ‘daqui a um mês vou estar aqui de novo. Posso reescrever a derrota ou uma história de vitória, no mesmo lugar’. Decidi que seria campeã”, relembra ela.
Depois dali, ela embalou. Acumulando experiência e medalhas mundo afora, a judoca do GN União é hoje a número 1 do ranking mundial da categoria 70kg sub-18. Consciente, mas ambiciosa, ela desde agora já sabe onde quer estar e, passo a passo, nutre um sonho: Paris-2024.
Na entrevista abaixo, ela conta um pouco mais sobre sua trajetória e seus sonhos:

Quando tu decidiste focar em ser uma atleta de alto rendimento no judô?
Quando eu participei da primeira seletiva nacional, de 2015. Eu era a atleta mais nova e consegui classificar entre as quatro. Quando entrei na seleção sub-18 de vez, eu vi que estava no caminho certo. Eu tinha 14 anos. Aí eu entrei na Seleção e fiquei em sétimo no circuito europeu da Alemanha, com 14 anos. Aí eu vi que mesmo sendo nova, eu poderia chegar.E quais foram os sacrifícios gerados por essa escolha? Especialmente quando se é adolescente.
Não poder sair foi o principal. Eu queria e não entendia muito bem isso tudo de viagem e dieta. Eu ia para o colégio e todo mundo estava comendo e marcando para sair. Todo ciclo de amigos saía e eu nunca podia, ou por estar preparando para campeonato ou porque eu estava viajando. A primeira coisa que mexeu comigo foi não poder sair e ter que cortar algumas amizades por causa disso.
O que tu espera dos Jogos Olímpicos da Juventude?
Eu nunca soube direito o que era os Jogos Olímpicos da Juventude. Achava até que era um campeonato qualquer. A minha meta sempre foi o campeonato Mundial, de qualquer categoria. Eu queria ser a primeira medalhista mundial do GN União, só que eu fiquei em sétimo. E aí eu tinha duas opções: ou eu me frustrava ou levantava e partia para o próximo objetivo. Eu já sabia que iria disputar os Jogos Sul-Americanos da Juventude, que também seria no Chile. Exatamente um mês depois do Mundial. Pensei: daqui a um mês vou estar aqui de novo. Posso reescrever a derrota ou uma história de vitória, no mesmo lugar. Decidi que seria campeã para tirar aquele carma daquele lugar. Além de ganhar os Jogos, vi toda a estrutura do Comitê Olímpico. Lá eles só falavam dos Jogos Olímpicos. O Sul-Americano era uma porta de entrada para os Jogos Olímpicos. Quando vi toda essa grandiosidade, de estrutura, sobre o que são os Jogos. Lá mesmo falei que a minha preparação para os Jogos começava lá. Desde então botei isso na minha cabeça e quero estar nos Jogos.
Ter uma edição dos Jogos Olímpicos voltada à juventude adia a chegada à Seleção Brasileira sênior ou torna-se mais uma etapa do processo?
Esse ano já participei do treinamento sênior, já fui para o Japão, no outro lado do mundo. E só fui porque era uma das atletas candidatas a participar dos Jogos da Juventude. Acho que esse evento pode me trazer bastante visibilidade. Até para a seleção principal. Eu também já participei de duas seletivas olímpicas. Isso não significa muita coisa, mas estou ao lado das melhores do Brasil. Acredito que todo o trabalho que esteja sendo feito na base do Brasil é uma acúmulo de experiências para chegar à Seleção principal. Acho importante participar deste processo para amadurecer e conhecer o estilo das escolas europeias e tudo mais.
Tu fazes parte de uma geração que já é acostumada a viajar desde cedo, uma realidade diferente do que acontecia até 10, 12 anos atrás. O quanto isso te ajuda, dentro e fora dos tatames?
Sou muito a favor e cada vez mais. Estou indo para o júnior e isso já muda um pouco, mas é totalmente válido e importantíssimas essas experiências. Do juvenil eu fui para sete ou oito etapas do circuito europeu. Eu já viajei para mais de 12 países com a Seleção. Dentro do tatame influencia muito para a gente entender as diferenças de lutas. Estamos acostumados só com o Brasil. Então a gente vai para fora e vê muitas diferenças, dificuldades, principalmente para quem vai nas primeiras viagens. O estilo de luta do povo de fora é muito diferente. Então eu acho que quanto mais viagens, mais conhecimento – de pegar no quimono e sentir a diferença das pessoas de fora, de pensar muito rápido para mudar o teu jogo e estilo de pegada – quanto mais viajar, mais ter experiências, melhor vai ser. Isso é um trabalho que a base do Brasil está fazendo muito bem. Cada vez mais está tendo mais viagens e viagens. Também acho muito importante a integração do júnior, juvenil e sênior. Esse intercâmbio é sempre muito válido.
Em quem tu te inspira e onde tu te imaginas daqui a dois anos?
Eu admiro muito a Mayra Aguiar. Mas eu também me inspiro nas pessoas que correm junto comigo. Elas são a minha força para ir mais longe. Eu luto por elas. Eu tenho os pés no chão e sei que 2020 não é pra mim ainda. O meu pensamento é ir para 2020 junto com a seleção, seja como sparring ou apoio. Eu sei que eles estão mais na minha frente, em termos de idade e experiência. E entrar em um ciclo para 2020 é quase impossível. Tenho convicção que meu ciclo é para Paris-2024.
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