Dez anos atrás, num 10 de setembro como esse, o japonês Masato Uchishiba, então atual campeão olímpico, tinha um brasileiro pela frente na decisão dos 66 kg do Campeonato Mundial do Cairo. Era um rival mais inexperiente, oriundo de um país que, apesar da tradição no esporte, nunca havia forjado nenhum campeão do mundo. Para o japonês, era um passo a mais para mais uma glória na sua carreira.
Quis o destino, porém, que naquela vez o resultado fosse diferente do esperado. Naquele tatame o favoritismo não entrou. Venceu quem teve mais determinação. Venceu o gaúcho e brasileiro João Derly.
Para quem esperava mais um título do japonês, a vitória de Derly foi assombrosa: em 42 de segundos de uma luta intensa ocorreu o ippon que dividiu a história do judô brasileiro em antes e depois de João Derly de Oliveira Nunes Júnior.
“Sempre digo que é difícil explicar a emoção sentida no momento, mas lembro de ter sido tomado de um sentimento de extrema alegria por saber que todo o esforço que havia feito para chegar naquele momento tinha valido a pena”, afirma Derly, que depois ainda foi mais uma vez campeão do mundo, no Rio.
“Quando me classifiquei para final, a delegação brasileira comemorava a prata como um ótimo resultado, já que a luta seria duríssima contra um japonês atual campeão olímpico. E, de fato, seria um resultado muito bom e acima do esperado, mas eu tinha uma confiança tão grande dentro de mim que, naquele dia, só me restava um resultado: vencê-lo e conquistar o título”, recorda.
“Aquele 10 de setembro no Cairo foi o dia mais importante da história do judô gaúcho”, exalta o técnico Antônio Carlos Pereira, o Kiko. “Um verdadeiro divisor de águas, que colocou o Brasil em um patamar mais elevado no judô mundial e fez o Rio Grande do Sul ser apontado até hoje como um dos principais polos da modalidade no Brasil. Isso graças ao suor e a determinação do João, mas também ao trabalho sério que realizamos por aqui”, complementa.
Derly, de fato, colocou o judô gaúcho e brasileiro em um novo patamar. Dois anos depois, no Rio, de uma vez só, vieram mais três títulos mundiais, com Luciano Corrêa, o ex-sogipano Tiago Camilo e com ele próprio. Isso sem falar em outras façanhas, como o título da então Super Copa de Paris e a bela campanha nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007.
O presidente da Federação Gaúcha de Judô, Carlos Eurico da Luz Pereira, concorda com o sensei: “Vivemos nesses dez anos a época mais gloriosa do judô no nosso Estado. O João é um ídolo que inspirou e segue inspirando milhares de crianças a vestir quimono e tentar ser o que ele foi no tatame, um campeão” destaca.
“Se hoje contamos com uma infraestrutura muito superior comparada a que tínhamos há uma década também se deve ao investimento que o judô recebeu depois que o Brasil teve o seu primeiro campeão mundial”, acrescenta o dirigente, que completa: “E é motivo de orgulho para nós termos quatro dos seis títulos mundiais que o Brasil tem hoje. É fruto de um trabalho sério realizado em todas as pontas, desde a recreação até o alto rendimento.”
De fato, todo o esforço de João Derly naquele 10 de setembro valeu a pena!
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parabéns João Derly