Que o judô é um esporte que atravessa gerações em milhões de famílias todos sabem, não é novidade. Mas o que aconteceu na Supercopa Canoas, no sábado passado, não é sempre que se passa: um duelo de mãe contra filha. Em plena véspera de Dia das Mães. Depois do confronto, as duas ainda dividiram o pódio do torneio realizado pela Federação Gaúcha de Judô.
O combate em questão foi pela categoria 57 kg da classe sênior, entre a mãe Carol Szarko e a filha Laura, mas na verdade ele já vinha sendo arquitetada há tempos. “Desde que ela passou a ser juvenil e eu soube que ela poderia lutar no sênior, sonhei com o dia em que nos enfrentaríamos numa competição, pois veteranas também podem lutar nessa classe. Já com esta intenção, no início do ano, me filiei à FGJ. E, mesmo com pouco treino, achei que o final de semana do Dia das Mães seria perfeito para realizar o meu sonho”, conta Carol.
Laura, 15 anos, confirma as intenções da mãe: “Muitas vezes, ela brincava comigo: ‘Um dia vou competir no sênior só pra lutar contigo’”, revela a jovem, que em seu primeiro ano de sub-18 também já passou a competir no sênior.
Ainda antes do hajimê, o confronto passou pelo aval do professor Daniel Pires, que treina ambas na Sogipa. “Ele foi categórico: ‘Pode, mas tem que ser uma luta DE VERDADE. Não vale pisar no tatame e se jogar’”, conta Carol. Quando a luta começou, ela fez frente. Por quase 40 segundos: “Realmente eu resisti o quanto pude. Tentei atacar, a prova é que não levei nenhum shidô. Sabia que não tinha condições de vencer a Laura”, comenta a mãe, minimizando a derrota.
O desempenho, entretanto, rendeu elogios da filha: “Na concentração, minha mãe parecia nervosa em ter que lutar contra mim na frente de todos, porém, durante a luta, percebi que esqueceu completamente dos que estavam ao seu redor. Ela é forte, e se treinar bastante tem futuro no esporte”, afirma Laura. “Quem sabe um Pan-Americano de veteranos algum dia?”
Treinando juntas, Laura, quem sabe. =)
“Meu melhor Dia das Mães”
Passado o confronto, Carol sentiu lesão no tornozelo e perdeu por WO o confronto com Camila Barreto. Já Laura acabou derrotada pela atleta da Kiai, dona de diversas conquistas internacionais. Como só havia as três na classe, o trio subiu no pódio em seguida, com Camila recebendo o ouro, Laura, a prata e Carol, o bronze.
Mas, para Carol, o resultado foi o que menos importou naquele dia. “Amei a experiência. Além de lutar com ela, eu queria ‘passar por tudo que ela passa’, para compreendê-la melhor: a pesagem, a ansiedade para ver a chave, a concentração, o momento de pisar no tatame e encarar a adversária. Dividir o pódio com a minha filha foi uma felicidade indescritível. Posso afirmar, com toda certeza: foi o melhor Dia das Mães que eu já vivi. Subir ao mesmo pódio que ela foi o melhor presente que eu poderia receber.”
Por mais mães no tatame
Laura, é claro, também guardará a experiência com carinho: “No momento da premiação vi que ela estava ainda mais emocionada do que eu, por ter ganhado a primeira medalha. Esse pódio foi especial e único, porque não imaginava que dividiríamos o mesmo”.
Ainda em seus primeiros passos entre viagens e competições, Laura defendeu a participação de mais mães no esporte. “É muito estimulante ter uma mãe que está sempre junto comigo nos treinos, competições”, diz. “Seria muito bom se todas as mães se interessassem da mesma forma em apoiar seus filhos em uma atividade esportiva e os incentivassem em suas escolhas para formar não só grandes atletas, mas também grandes seres humanos.”