Ainda estamos em setembro, mas com certeza podemos bradar com orgulho: QUE ANO para o judô gaúcho! E quando se fala isso não é “apenas” pelo título Mundial de Mayra Aguiar ou então pelo tetra do Pan-Americano de Felipe Kitadai. Não. E sim pelo elevado número de medalhas conquistas nos cinco Campeonatos Brasileiros realizados até agora: sub-13, sub-15, sub-18, sub-21 e sub-23. A disputa do sênior ocorre em outubro.
São 49 pódios até agora, sendo 18 medalhas de ouro, 10 pratas e 21 bronzes. Desempenho, esse, que garantiu ao Rio Grande do Sul os títulos do masculino no sub-23 e sub-21 e do feminino no sub-13 e sub-15. No sub-13, a Seleção Gaúcha ainda foi a campeã geral no sub-13.
Os motivos para o desempenho (exemplificado no gráfico abaixo) são diversos, mas a certeza, única: não é sorte. “É seriedade no trabalho. O pessoal que vem trabalhando com a base está fazendo um bom resultado”, diz o professor Daniel Pires, responsável pela delegação gaúcha na maioria dos eventos nacionais.
O professor Sandro Nery, por sua vez, vê nas medalhas a colheita de uma plantação que começou há quase dez anos. “É fruto de um trabalho que a FGJ está fazendo ao longo destes oito anos, trazendo a informação para cá, como por exemplo com o Credenciamento Técnico, em que veio Jun (Shinohara), Floriano (Almeida), Aurélio (Miguel), entre outros”, avalia o técnico, presente em todos os Campeonatos Brasileiros deste ano. “Acho que isso somou bastante com quem pode aproveitar.”
Daniel: “Vitórias da Sogipa inspiram”
Ex-rival de ninguém menos que João Derly nos tatames, Daniel Pires hoje é um dos técnicos da Seleção Gaúcha e da equipe Oi/Sogipa, onde convive tanto com atletas olímpicos quanto com crianças que recém aprenderam amarrar as faixas sozinhas. Para ele, o bom momento do judô gaúcho se deve ao fato de que clubes e academias se inspirarem em um modelo de sucesso, no caso a Oi/Sogipa.
“Estamos com um nível muito alto na Sogipa, temos quatro títulos mundiais”, ressalta. “Algum retorno para o Estado tem que dar. E está aparecendo agora. Os outros clubes estão se espelhando na Sogipa. A tendência é puxar os outros para cima”, acredita ele, lembrando que a Sogipa colhe resultados em todas as categorias, desde o sub-13 ao sênior. “Do Brasil, a Sogipa é o único clube grande que também tem este trabalho da base ao alto rendimento.”
No entanto, não apenas ter a Sogipa como vizinha faz os outros clubes crescerem, na opinião de Daniel: “A maioria dos professores hoje tem formação em educação física. No processo de desenvolvimento da criança é muito importante. Os professores que estão trabalhando hoje foram, em sua maioria, um pessoal que competiu mais. O trabalho em si melhorou”.
Daniel lembra ainda da facilidades que os atletas mais jovens têm hoje, ao contrário de outras épocas. “Hoje em dia o judô está mais atrativo. Quando se entra no sub-18, tu já tens mais possibilidade de viajar, ter acesso à Seleção Brasileira. O investimento não só das academias, mas que a CBJ está fazendo é grande”, relata. “A gente está indo em um barco que é o judô nacional, que tem tido resultados muito bons. Isso está trazendo incentivos ao judô e aos professores. Com este apoio da CBJ, a estrutura do campeonato e das federações está melhor”, conclui.
Sandro destaca o intercâmbio
Treinador da Kiai e presença constante na maioria das delegações gaúchas, Sandro Nery acompanha de perto o desenvolvimento de centenas de atletas. Ele garante não ter dúvidas dos benefícios proporcionados por um intercâmbio que começa cada vez antes.
“Essa gurizada está tendo oportunidades mais cedo”, frisa. Pegando de exemplo os atletas da Kiai, ele cita: “Mandamos a galera para treinar em Minas. Eles estão saindo para competir não apenas em Brasileiro, mas Copa Minas, Copa São Paulo, Copa Rio. É uma maneira de eles terem os seus resultados. Conhecem os adversários e pegam cofiança”, analisa.
Para o professor, contudo, muito dos resultados passam pelo estudo, tanto dos professores, como no Credenciamento Técnico, como dos alunos: “Há muito estudo. No judô, além de ter o dom, tem que ser inteligente para lutar. Hoje em dia a criança tem muita informação”, destaca. “Eles veem o adversário da próxima luta, analisam taticamente e entendem. Isso faz a diferença, especialmente no sub-13.”
Sandro salienta também a colaboração da psicologia ao sucesso atual do judô gaúcho e exemplifica com a prática adotada na Kiai. “A gente tem um trabalho na Kiai com uma psicóloga, que temos usado bastante. Às vezes, em meio à competição, eles trocam WhatsApp com ela. Acho que deu resultado”, comemora ele, que foi técnico em muitas das conquistas de gaúchos não apenas da Kiai ao longo de 2014: “Colocamos nove atletas na Seleção Brasileira”.