As conquistas mundiais de João Derly viraram tema de artigo. Escrito pelo professor Antônio Carlos Pereira, o Kiko, e orientado pelo ex-presidente da Federação Gaúcha de Judô Luiz Maduro e o professor doutor Marcio Geller Marques, o trabalho conta com entrevista de Derly, hoje vereador de Porto Alegre.
O texto se propôs a encontrar aspectos que levaram o judoca gaúcho aos então inéditos títulos mundiais para o Brasil, comparando tanto o preparo físico quanto o emocional nas finais de Cairo-2005 e Rio-2007.
Apresentado no Rio de Janeiro, o artigo é dividido em quatro partes: sensação de ser campeão; legado; chegar à final; e percepção do momento. A introdução do artigo está disponível para leitura abaixo:
É provável que o judô tenha sido trazido ao Brasil por um dos 781 imigrantes japoneses que aqui chegaram em 1908 a bordo do navio Kasatu Maru. A evidência mais documentada é a de que a introdução tenha sido feita pelo conde Coma (Mitsuyo Maeda) – antes discípulo de Jigoro Kano. Há duas versões quanto ao ano e ao local de sua chegada, a primeira dá conta de que teria sido chegado através do Porto de Santos e iniciado sua difusão em 1917, em Belém do Pará; a outra, mais documentada mas menos conhecido, seria de que sua chegada aconteceu em 14 de novembro de 1914, em Porto Alegre (RS) e que a primeira exibição após 1 ano, na cidade de Manaus (AM). O primeiro campeonato mundial foi realizado no ano de 1956, em Tóquio, 18 países participaram do evento, no entanto, sem a presença do Brasil. Somente 5 anos depois, em 1961, o Brasil estréia em campeonatos mundiais, durante a terceira edição do evento em Paris/FR, com a participação de somente um atleta, Lhofei Shiozawa (FRANCHINI e DORNELLES, 2005).
Embora a trajetória do judô brasileiro nos Campeonatos Mundiais tenha sido marcada pela conquista de diversas medalhas, faltava a conquista do título de campeão. Em 1988 o atleta Aurélio Miguel conquistou a primeira medalha de Ouro para o Brasil e nos Jogos Olímpicos seguintes em Barcelona, Rogério Sampaio repetiu a conquista. Mas, entretanto o país não conseguia repetir o desempenho nos Campeonatos Mundiais.
Com as duas medalhas de prata e uma de bronze, conquistadas pelo então maior ídolo da história do judô brasileiro, Aurélio Miguel ao longo de sua carreira, ficou a expectativa de conquistar a tão sonhada medalha de ouro. O título de campeão mundial tornou-se uma meta tanto para a Confederação Brasileira de Judô como para o Comitê Olímpico Brasileiro (KOCH; PEREIRA, 2007).
Finalmente, quarenta e quatro anos após a primeira participação do Brasil em Campeonatos Mundiais e depois de quatorze medalhas de prata e bronze, conquistadas por diversos atletas brasileiros, na data histórica de dez de setembro de 2005, no Cairo/Egito, sobe ao pódio para receber a medalha de ouro João Derly de Oliveira Nunes Júnior, nascido em Porto Alegre, em 1981. O judoca gaúcho, então com vinte e quatro anos de idade, precisou vencer na semifinal o atleta da Georgia, David Margoshvili, para então se classificar e enfrentar o campeão olímpico de 2004, em Atenas, o japonês Masato Uchishiba, considerado pela crítica especializada favorito daquele derradeiro confronto. O já vitorioso judô brasileiro apresenta seu primeiro campeão mundial (KOCH; PEREIRA. 2007).
Passados dois anos, o Brasil sedia o Campeonato Mundial pela segunda vez na história, vez que em 1956, também no Rio de Janeiro, aconteceu o primeiro Campeonato Mundial de Judô em solo brasileiro. O atleta João Derly, animado com a primeira conquista, busca novamente um título inédito. Assim, em setembro de 2007, ao vencer o cubano Yordanis Arencibia, João Derly torna-se o primeiro brasileiro a sagrar-se bi-campeão mundial de judô (KOCH; PEREIRA, 2007).
No esporte há diversos estímulos que podem causar tanto efeitos emocionais positivos quanto negativos, dependendo do indivíduo e de suas características, influenciando diretamente no desempenho do esportista (VIEIRA e.t AL, 2008).
Para se tornar um atleta de alto rendimento, como o caso de João Derly, precisou superar diversos obstáculos no meio competitivo. No contexto esportivo são muitos os comportamentos que acabam sofrendo influência de fatores psicológicos e podem vir a afetar o desempenho motor do atleta.
Pode-se refletir como se da à trajetória do atleta do início de carreira , até se tornar integrante da elite mundial de sua modalidade. Vários fatores podem influenciar este caminho, tais como o apoio da família, a estrutura de seu clube, o conhecimento de seu treinador conforme Mesquita e Rosado (2007). Já Marques (2003) salienta a importância do apoio familiar. Também Weinberg e Gould (2008) enfatizam que é importante o técnico esportivo poder entender todas as necessidades emocionais dos seus atletas para poderem superar os desafios decorrentes do esporte competitivo.
Alem disso, quando o atleta se torna um expoente no esporte mundial existe uma período de adaptação para condição de atleta confirmado, não mais um desconhecido pela mídia e pelos adversários. Além disso, o resultado positivo gera uma expectativa de seu clube, dos novos patrocinadores, seu país e do próprio atleta. Porém para que isto não seja um fator prejudicial é preciso que o atleta esteja bem focado e orientado .
Diante do contexto descrito, buscou-se com este estudo a análise da percepção do atleta João Derly nas finais dos campeonatos mundiais de 2005 e 2007.
